02/12/2023 às 11h29min - Atualizada em 02/12/2023 às 11h18min
Avisa lá…
Claudia Vanessa Bergamini
Rádio Verdes Florestas (Nágila M. S. Oliveira) “Atenção Letícia e Léo, da comunidade São José, aviso que o Noé faleceu hoje às 5 horas da manhã, se quiser vir, o carro do Geraldo vai esperar na ponte. Ass. Odenir”.
O bilhete enviado a uma rádio acreana parece ter sido escrito muito tempo atrás. Mas não foi. Já escrevi em outra crônica que as distâncias por aqui não são medidas em quilômetros, mas sim em horas de barco. Já escrevi também sobre o acesso à internet e ao telefone não ser tão simples assim. Por essas razões, a rádio no Acre tem um papel singular. Enquanto muitas emissoras se reinventaram para seguirem vivas na era digital, absorvendo novas tecnologias, as daqui seguem firmes com um formato tradicional. O bilhete que inicia esta crônica é um dos muitos que chegam diariamente para serem lidos em programas específicos, que permitem o diálogo entre a comunidade ribeirinha e a cidade. Todavia, não se engane pensando que só a dor da perda é anunciada. Torneios de futebol, consultas médicas agendadas, a chegada de parentes, informações sobre a saúde daqueles que são internados na cidade são alguns exemplos de mensagens que circulam. Por isso, se alguém pensa que a rádio está fadada ao esquecimento diante das novas tecnologias, está errado. No Acre - no Brasil e em outras regiões do mundo - ela está viva, transforma a impossibilidade de se comunicar em realidade, afeta positivamente a vida dos ribeirinhos, mantendo seu propósito básico de interlocução. É a perfeita soma da relevância e da necessidade, pois orienta e informa aqueles para os quais outros meios ainda são inacessíveis. O celular já está virando broche, conforme modelo lançado em novembro na semana de moda de Paris, mas o rádio continua rádio, vivo e cumprindo sua função social.