05/07/2024 às 20h45min - Atualizada em 05/07/2024 às 18h42min

A batina milagrosa

Do Norte para o Sul

Claudia Vanessa Bergamini

Claudia Vanessa Bergamini

Do Norte para o Sul

Claudia Vanessa Bergamini
Foto da autora

Nas cidades pequenas, o passado e o presente vivem entrelaçados e, estando em uma dessas cidades, difícil é não encontrar com um morador antigo e ouvir dele as histórias do passado e constatar como estão vivas, mesmo passados anos e anos. E foi num desses bate-papos que conheci o causo da batina milagrosa, que já, já, conto com os detalhes do relato. O protagonista é o Padre Paolino Baldassari, italiano que se tornou acreano, depois de quase seis décadas dedicadas ao trabalho missionário com povos ribeirinhos da Amazônia acreana. Falecido aos 90 anos, em 2016, ele viveu a maior parte do tempo em Sena Madureira. Dentre as ações do Padre Paolino, o desabriga me chamou muita atenção. Ele subia o rio, - e não se engane pensando se tratar de ação simples, subir o rio implica ficar dias e dias  na voadora, ir parando às margens, visitar a comunidade ribeirinha para realizar batizados, casamentos, rezar a missa e dar a extrema unção, tudo isso em condições bem precárias, num calor intenso e com chuvas constantes -, e ele passava dias e dias subindo o rio para realizar o desabriga. O nome por si é interessante, pois significa que o sujeito ficou livre de obrigações, sem dívida, no caso cumpriu a obrigação religiosa. Bom, mas vamos ao caso da batina milagrosa. Além de Sena, o padre viveu em Brasileia, cidade bem na fronteira entre Brasil e Bolívia - uma curiosidade, até a inauguração de Brasília, Brasileia se chamava Brasília, perdeu o nome exatamente para cedê-lo à nossa capital. Em Brasileia, padre Paolino construiu uma igreja, a catedral, cuja foto compartilho com você. A obra, como todo obra divina, levou alguns anos para ser finalizada. Quando, enfim, estava já ‘nos finalmentes’, o padre teve a ideia de subir na torre para fiscalizar se estava tudo em conformidade. Subiu e subiu de batina. E nesse movimento, a batina enroscou em algum arame ou madeira que ainda estava pelo caminho. Foi um tal de ‘Meu Deus do céu me acuda’ e ‘livrai-me do perigo’ que Deus saiu do seu descanso de fim de tarde e acudiu o padre. O pobre estava de cabeça para baixo, enroscado e, adivinha, seguro pela batina que ficara enroscada. Bendito seja o tecido 100% algodão do passado. Se fosse hoje, com esse tanto de mistura acrílica, o tecido da batina desfiaria. Desceu sã e salvo o padre e viveu para vibrar e recontar a história e, melhor ainda, fazer um trabalho louvável nas terras acreanas. Deixou um legado e quem conta seus causos está mesmo esperando o momento de contar que o pedido de canonização do padre foi validado pelo Vaticano. Vivem por aqui as memórias do Padre Paolino. Viva!!!

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