Em 2013, quando Jorge Mario Bergoglio foi escolhido papa, diante dele se delineava um
cenário de desafios, dentre os quais estavam denúncias de abuso sexual de padres contra menores, estagnação do número de católicos, queda do número de padres. Teve ainda que lidar com temas espinhosos: eutanásia, homossexualidade, aborto e fome no mundo. Com relação ao aborto, o Papa Francisco reforçou ser inegociável a vida, assim como o fez quanto à eutanásia, ao afirmar ser o cuidado, por métodos paliativos, um ato de amor. Não foi diferente no que se refere à união entre pessoas do mesmo sexo, no entanto, discursou em 2023, pontuando que a homossexualidade é pecado, mas não crime. Nos 12 anos em que esteve à frente da Igreja Católica, o Papa Francisco deu lições sobre amor e simplicidade, na Encíclica Laudato Si, ele demonstrou preocupação com o meio ambiente, reiterando que tudo está conectado e o ser humano não está dissociado da terra e da natureza, ele é parte e as partes é que formam o todo. Em tempos nos quais a fome, a pobreza e a miséria seguem acentuadas, o legado de Francisco foi marcado pela preocupação insistente com essas questões, com a adoção de uma postura simples, por palavras que endereçavam mensagens pacificadoras e de fé; por ações que nomearam bispos e cardeais com visão bem próximas às dele. Ritos sofisticados foram alterados, em detrimento a outros simples, carros populares foram adotados, o espaço dado à mulher na Igreja foi alargado e o próprio modo de conceber a Igreja como feminina, a construção de um líder humilde e preocupado menos com bens materiais e mais com a construção de uma sociedade mais justa e uma igreja aberta a todos são elementos que permitiram uma igreja multicultural e com novas estruturas internas, sem se importar com os conservadores. Restaram feridas? O jornalista italiano Domingues Fittipaldi, em um dos diversos livros que publicou sobre o Vaticano, afirmou que a pedofilia, mal que se estende por séculos dentro da Igreja, foi tratada como um problema qualquer, sendo o tema ponto fraco do pontificado de Francisco, sem debate, sem mudanças. Não nega, porém, que Francisco avançou, e muito, ao tratar de tantos outros temas. Neste 21 de abril de 2025, o mundo se despede do Papa Francisco, a América Latina se despede do homem que sustentou a necessidade de a Igreja acolher os mais fracos, de não forçar uma visão idealizada da família e de pensar no ambiente em que vivemos como criação de Deus a nós dada e que deve, portanto, ser por nós zelada, a fim de que haja harmonia, equilíbrio. Guardemos todos as lições de Francisco, “o pastor tem que ter cheiro de ovelha”, “quem sou eu para julgar?” e “cuidar da criação é um ato de amor a Deus e à humanidade “.