27/03/2023 às 18h29min - Atualizada em 27/03/2023 às 18h29min
As águas de março
Claudia Vanessa Bergamini
Brasileia é a cidade fronteira com a Bolívia, o rio Acre está 3 metros acima do nível considerado emergencial As águas de março não fecham o verão, porque aqui não é verão. Espantem-se: aqui agora é o inverno amazônico, período em que as temperaturas baixam, ficando entre 25 a 31 graus. É o período no qual o clima fica ainda mais úmido e a chuva se intensifica, não raro o dia amanhece cinza, embora continue calor. E chove, chove, chove todos os dias e, às vezes, o dia todo. O inverno amazônico tem início em meados de novembro e se estende até o final de maio. As águas de março não fecham o verão, mas igualmente ao que ocorre no Sudeste e Sul do país, são devastadoras. O rio, que por aqui significa vida, locomoção, acesso ao alimento, ao medicamento, ao deslocamento entre cidades, passa a ser o invasor da cidade. Mata, devasta, traz dor, traz doenças, traz morte. O rio é progresso e atraso, vida e morte, alegria e dor, diversão e pavor. E nesse jogo antitético as pessoas vão construindo histórias, acumulando dores, contando perdas e aprendendo a refazer o caminho que a água desfaz.