A Prefeitura de Londrina, através da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) e com o apoio da Secretaria Municipal de Obras e Pavimentação (SMOP), da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) e da Sanepar, vem realizando diversas ações para normalizar a situação do Lago Igapó. Nas últimas semanas, o tradicional cartão postal da cidade apresentou alteração na coloração da água e proliferação de algas.
Em entrevista coletiva realizada na tarde desta sexta-feira (10), às margens do Lago Igapó, o secretário municipal do Ambiente, Gilmar Domingues, explicou que as chuvas recentes devem contribuir para a melhoria das condições. “Contamos com as chuvas, que agora entram num regime natural para esta época do ano. Com esse aumento, teremos uma consequente melhora dos corpos hídricos do complexo do Lago Igapó”, afirmou.
Além da expectativa de melhora natural, a Sema está conduzindo investigações sobre possíveis ligações clandestinas de esgoto. Segundo Domingues, o trabalho é feito em parceria com a Sanepar, que disponibilizou informações sobre as ligações de esgoto próximas ao lago. “Estamos fazendo a localização desses pontos nas margens do Lago Igapó e, num próximo momento, entraremos com a fiscalização individualizada dessas residências”, explicou.
O secretário confirmou que foram identificados pontos com índices muito elevados de fósforo e nitrogênio, o que indica a possibilidade de despejos irregulares. “Encontramos alguns pontos onde os níveis estão muito acima da média histórica, o que é um forte indicativo de contribuição de esgoto clandestino”, disse.
A Sema e a Sanepar pretendem utilizar sondas com imagens subterrâneas para localizar os focos de contaminação, uma vez que os lançamentos aparentemente ocorrem de forma intermitente.
Domingues destacou ainda a parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que realiza estudos sobre a presença de cianobactérias na água. O levantamento é financiado pelo Programa Municipal de Incentivo ao Verde (Proverde), que conta com recursos provenientes do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Consemma).
“Estamos preocupados com a qualidade das águas não só do Igapó, mas de todo o sistema hídrico de Londrina. A UTFPR detectou possíveis cianobactérias de diferentes espécies, e aguardamos a conclusão da identificação. Também pretendemos firmar uma parceria com o Instituto Água e Terra (IAT) para monitorar a nascente do Ribeirão Cambé, que fica no município de Cambé. Ou seja, não é um problema exclusivo de Londrina. É importante lembrar que a contaminação das águas do lago é uma situação que já ocorre há muitos anos. Por isso, a CMTU está implantando novas placas que informam que a prática da natação é proibida”, afirmou.
Entre as medidas já em andamento, a Sema efetuou a retirada de poluentes em parceria com a CMTU e iniciou testes com micro-organismos eficazes para tentar reduzir a carga orgânica da água. “Uma coleta foi feita no lago, e as amostras estão sendo ativadas para que possamos testá-las em um corpo hídrico menor. Também buscamos empresas que forneçam equipamentos de centrifugação, capazes de reter a matéria orgânica e devolver ao lago apenas a água limpa”, disse o secretário.
Com relação à segurança dos servidores, Domingues informou que a Sema está providenciando novos equipamentos de proteção individual (EPIs), como macacões de saneamento, e que o uso de coletes salva-vidas é obrigatório nas operações com barcos. “Até que esses itens estejam disponíveis, os nossos servidores farão a retirada de resíduos somente a partir das margens do lago, por questões de segurança”, frisou.
O secretário lembrou que o esverdeamento da água se deve à proliferação de microalgas, resultado de um desequilíbrio ambiental. A Secretaria também tem trabalhado em conjunto com a CMTU para a remoção controlada das alfaces-d’água (macrófitas), que se deslocaram dos lagos 3 e 4 após a desobstrução dos canais feita pela SMOP para prevenir a ocorrência de alagamentos na área. “As alfaces-d’água não são maléficas. Elas retiram poluentes e competem com as microalgas, ajudando no equilíbrio. O trabalho é de controle, não de eliminação”, explicou.
Outras iniciativas incluem a elaboração de um Plano Diretor de Drenagem Urbana, voltado à prevenção de novos episódios de poluição difusa e à preservação das áreas permeáveis. “São projetos que já estão saindo do papel, e acreditamos que nos próximos dias teremos mais novidades”, afirmou Domingues.
Ele reforçou que, embora o Lago Igapó esteja contaminado há décadas, a Prefeitura vem atuando para mitigar os impactos e recuperar gradualmente a qualidade da água. “Já iniciamos várias ações e seguimos todas as recomendações da UTFPR. Estamos fazendo o possível para devolver ao Igapó o equilíbrio ambiental que ele merece”, concluiu.
O professor Jorge Martins, da UTFPR, que atua no programa de pós-graduação do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, realçou que o trabalho tem sido realizado com o objetivo de encontrar soluções de longo prazo para o problema. “A contaminação é resultado de diversos fatores como o esgoto clandestino, detergentes e fezes de animais que acabam vindo parar no lago com as chuvas. Pensamos em Soluções Baseadas na Natureza, que podem se desenvolver em vários níveis. Isso pode envolver, por exemplo, políticas públicas que aumentem a área permeável dentro dos quintais, estimulando uma redução no volume de água que vem para o lago”, disse.