21/06/2023 às 19h29min - Atualizada em 21/06/2023 às 19h20min

Ataque à escola Helena Kolody: quantas mortes?

Claudia Vanessa Bergamini

Claudia Vanessa Bergamini

Do Norte para o Sul

Claudia Vanessa Bergamini
Foto amplamente divulgada em veículos de comunicação

Claro que você tem resposta exata para o número de mortes no acontecimento que transformou a escola em palco trágico. Dois jovens saudáveis, cheios de vida, de planos, de projetos, de sonhos tiveram a vida interrompida por um outro jovem. Pode parecer paradoxal, mas é desse outro jovem que quero falar. Ele se matou enforcado, segundo as notícias, na cela em que estava. De forma alguma, desejo defender o ato atroz desse rapaz. No entanto, a ação dele de tirar a vida de jovens cheios de vida merece, no mínimo, uma reflexão. Não faz muito tempo que li um artigo sobre o comportamento de adolescentes. A leitura de cunho acadêmico apontou algumas doenças sociais que acometem crianças e jovens na contemporaneidade. A ausência de diálogo entre pais e filhos; a exposição por longas e longas horas a jogos, a redes sociais ou a qualquer outro meio não propício para o contato humano, para a interação, para dividir a humanidade; a vida cheia de compromissos a que muitos jovens são submetidos ao longo do dia, sempre com foco no futuro, mas raramente com foco nos relacionamentos saudáveis entre as pessoas da família e na saúde psicológica; a falta do toque, de regras, de limites, de cuidados, enfim, de amor. Pode soar exagero listar essas questões e me referir a um assassino. Pode parecer, mas não é! Vivemos um tempo de doenças psicológicas, de relações líquidas, como bem advertiu Bauman, um tempo em que a humanidade se presenteia com crueldade. A vida tem cada vez menos valor, e a saúde mental é legada a segundo - até terceiro - plano. Professora que sou há décadas, convivo com crianças, adolescentes e adultos. Já perdi aluno por suicídio e me questionei, à época, porque não consegui ali enxergar o fato de que aquele menino precisava de ajuda. Karoline e Luan eram jovens saudáveis física e psicologicamente e não mais estão entre nós. O outro jovem, a quem chamamos assassino, não era. Igual a ele há muitos outros jovens por aí. Por isso, é preciso pensar na saúde mental de crianças e jovens, estar atento aos sinais, aprender a ler nas entrelinhas as atitudes e agir, buscando auxílio para tanto. Assim, haverá menos lugar para uma geração de ações violentas e muito mais para uma de ações saudáveis, uma geração de jovens que saibam superar problemas e saltar para a vida adulta com autoconfiança para enfrentar os desafios. Três mortes aconteceram e a do assassino pode reverberar em muitas outras se o devido cuidado não for tomado quanto à saúde mental dessa geração.
 

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