Já se vão longos anos depois que vivi a infância. Soa-me doce a pronúncia da palavra, assim como me soa doce pensar no significado dela. Tempo de receber a chuva no rosto sem medo de resfriar-se; tempo de deixar as horas correrem sem nem saber o que é relógio; tempo de navegar em águas de cuidados maternos. Infância é tempo de abrir a felicidade na tubaína vendida no bar da esquina, na caixa de bombons dividida entre os irmãos, na pipa lançada ao céu e no drible com a bola no campo de pouca grama e muita terra, em que jogadores mirins são campeões do mundo a cada gol. A lua é mais lua; o sol é mais sol; as tardes são fugazes; mas os dias de chuva, infindos. Os anos modificaram gostos, exigiram muitas horas de trabalho e raras as de diversão; no entanto, ainda trago viva a criança que da janela espera o dia em que sol vai brilhar e, com ele, virá uma brisa leve e agradável da qual emanará o aroma delicioso da infância, as cores de um tempo ímpar, o sabor dos pés descalços tocando o solo e o riso largo que somente na memória mantém-se vivo. Que não morra a criança que habita na memória de cada adulto. Feliz dia das crianças!