Os mais de 1,9 bilhão de muçulmanos do mundo inteiro já estão vivenciando o Ramadã: período de 29 ou 30 dias de jejum e orações, obrigatório para todos os considerados adultos na religião islâmica. Neste período, que começa com o avistar do nascer da lua crescente no céu – o que indica o início do nono mês do calendário islâmico (um calendário lunar que possui 354 ou 355 dias) -, os fiéis permanecerão, da alvorada ao pôr do sol, sem ingerir alimentos (incluindo água) ou manter relações conjugais, além de intensificar a ajuda ao próximo, as orações e a leitura do Alcorão.
Em 2023, a celebração teve início no dia 23 de março e segue até próximo de 21 de abril, isso porque as datas deste mês sagrado variam a cada ano, pois depende da visualização dos movimentos da lua. Para o islamismo, foi nesse mês que os primeiros versículos do Alcorão, a Escritura Sagrada dos muçulmanos, foram revelados por Deus (Allah) com intermédio do anjo Gabriel ao profeta Muhammad.
São dispensados do jejum as crianças, as mulheres, em período menstrual, viajantes, pessoas com idade muito avançada ou aqueles que possuam doenças que se agravam com o jejum. Para esses, é possível cumprir o período em outro momento do ano, antes do próximo Ramadã. Caso o jejum seja impossível para os doentes crônicos ou idosos, a caridade deve substituir o jejum, mantendo a ação de alimentar uma pessoa necessitada duas vezes ao dia durante o mês do Ramadã. Dessa forma, o Ramadã combate também o orgulho e a avareza, além de promover a igualdade.
“O propósito do Ramadã é fortalecer ainda mais a relação dos muçulmanos com Deus, em gestos de sacrifício e abnegação, além de incentivar a união, a paciência e a compaixão entre as pessoas. É um período para finalizar as mágoas passadas e fazer as pazes com possíveis desafetos. Já para os mais jovens, receber a autorização dos pais para participar de seu primeiro Ramadã é uma honra ainda maior, pois significa que essa pessoa está sendo reconhecida como adulta perante à comunidade”, explica o Sheikh Yuri Youssef Ansare.
O dia a dia no Ramadã: a primeira refeição do dia, chamada suhur, acontece na alvorada, por volta das 5h da manhã, e, após ela, vem a primeira oração, chamada de fajr. Inicia-se então o jejum.
Ao longo do dia, é comum que os muçulmanos se dirijam à mesquita, onde acontecem reflexões e leituras do Alcorão, além de outras orações diárias: Dhur (oração do meio-dia) e Asr (oração entre o meio-dia e o pôr do sol).
A quebra do jejum, chamada iftar, ocorre, após o término da oração do maghrib, que acontece ao pôr do sol. Essas refeições são momentos de fraternidade entre famílias e comunidades, pois costumam ser realizadas em coletivo.
Há ainda a última oração obrigatória do dia, a isha, realizada entre uma hora e meia após o maghrib e antes da meia noite.
Ramadã para não muçulmanos
Ao contrário do que se pode pensar, não muçulmanos não precisam se sentir obrigados a jejuar com os muçulmanos com quem convivem, mas, se assim desejarem, serão bem-vindos. Isso também vale para participar do iftar e do Eid al-Fitr. O que deve ser obrigatório é o respeito para com os que estão realizando o jejum, não oferecendo comida, por exemplo.
Ramadã Mubarak é uma expressão que pode ser entendida como “Feliz Ramadã!” e não muçulmanos também podem usá-la para felicitar muçulmanos ao longo do mês de jejum.
Eid al-Fitr: Após o último dia de jejum, assim que a lua crescente do mês seguinte for avistada ou completar-se 30 dias de Ramadan, chamada Shawwal, acontecem as festividades de Eid al-Fitr, quando as famílias e comunidades, em comemoração ao Ramadã abençoado, usarão suas melhores roupas e se reunirão para um grande banquete, comumente com trocas de presentes. Nessa festividade, após um mês inteiro de sacrifício, é um momento de desfrutar das bênçãos diárias: as casas e estabelecimentos muçulmanos costumam ser decorados com lanternas e é reservada também uma quantia de alimentos para ajudar aos necessitados, de acordo com as posses de cada um, para que eles também possam celebrar ao Ramadã.
A gastronomia do Ramadã
É comum que o jejum seja quebrado com tâmaras e água, da mesma forma como fez o profeta Muhammad. Na Arábia Saudita, por exemplo, uma das estrelas típicas é o Mugalgal, prato com carne de cordeiro picada, arroz e tomates, além do Debyazah, um doce feito de nozes, pistache, damascos amêndoas e figos.
A ceia de Eid al-Fitr varia entre vários tipos de sopas, carnes, frutas, legumes e doces de acordo com o país, já que os muçulmanos estão presentes em todo o mundo.
Os cinco pilares: O jejum sagrado é apenas um dos cinco pilares da fé islâmica que guia os muçulmanos, sendo os outros:
- Shahada: Testemunhar que não existe outra divindade a não ser Allah (Deus) e Muhammad – que a paz e a benção de Deus estejam sobre ele - é seu servo e mensageiro.
- Salah: Rezar cinco vezes ao dia voltado à Meca.
- Zakat: Contribuição paga pelos ricos aos necessitados.
- Saum: É o jejum durante o mês do Ramadã;
- Hajj: Aqueles que possuem condições físicas e financeiras devem fazer a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida.