Prefeito Rafael Greca recebe o crítico de arte carioca, Jose Roberto Teixeira Leite (Foto: Ricardo Marajó/SMCS) Como parte das comemorações pelos 330 anos de Curitiba, celebrados no dia 29 de março, o maior especialista em Movimento Paranista e na obra do escultor João Turin (1878-1949), o professor e crítico de arte carioca José Roberto Teixeira Leite, lança no dia 28 de março o livro "Paranismo", sobre o movimento cultural curitibano surgido no começo do século 20 para valorizar as raízes do Paraná. O livro está sendo publicado pela Fundação Cultural de Curitiba.
“O livro, com prefácio meu e posfácio de Samuel Ferrari Lago e Margarita Pericás Sansone, completa nosso maior projeto cultural desta gestão (2017-2024): o Jardim de Esculturas João Turin (1878-1949) e Memorial Paranista de Curitiba”, diz o prefeito Rafael Greca.
No mesmo dia do lançamento do livro, às 19h, será aberta a exposição “O Paranismo”, no Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem. "Esta mostra vai ilustrar a exposição permanente do Parque São Lourenço", antecipa Greca.
O autor de "Paranismo" nasceu no Rio de Janeiro, dirigiu o Museu Nacional de Belas Artes entre 1961 e 1964 e exerceu a crítica de arte em diversos veículos da imprensa brasileira. É autor do livro João Turin: vida, obra, arte, de 2014.
Visita
Em março do ano passado Teixeira Leite esteve em Curitiba e conheceu o Memorial Paranista, no Parque São Lourenço. O espaço é dedicado ao movimento artístico e às obras de Turin, considerado uma referência em escultura no Brasil.
João Turin é um dos principais nomes do Paranismo, o movimento artístico regionalista que utiliza na arte símbolos do estado, como o pinheiro, o mate e a gralha-azul.
“O paranismo se vê em tudo. É como uma pequena fogueirinha que está quase morrendo e de repente volta a pegar fogo. Todos daqui são paranistas e até eu estou ficando um pouco”, afirma Teixeira Leite.
O historiador o define como um grande escultor, artista, desenhista e também pioneiro em muitas temáticas.
O principal tema da obra do artista é o animalismo, que é usado como uma forma de poética. Turin viveu na Serra do Mar, habitat de onças, onde se inspirou para suas obras. “João Turin conhecia os animais de perto. Acordava de madrugada para ir à mata e fazer os desenhos”, contou Teixeira Leite quando esteve em Curitiba.
Na ocasião, o prefeito Rafael Greca recebeu o historiador em seu gabinete na Prefeitura. “Sua presença em Curitiba dignifica nossa cidade e enaltece a memória de Turin, artista ao qual dedicamos o Memorial Paranista”, disse Greca na época.
O movimento
O Movimento Paranista, atualmente exaltado no Memorial Paranista do Parque São Lourenço, foi uma proposta estética regional, concebida para valorizar a identidade paranaense por meio de elementos que simbolizassem a singularidade do Paraná nas artes. O pinheiro (o principal deles), o pinhão, a erva-mate, a onça e a gralha azul estavam entre eles. O escultor João Turin se identificou com os objetivos do Paranismo tão logo retornou ao Brasil, depois de 17 anos vivendo na Europa.
Com origens na emancipação do Paraná de São Paulo, em 1853, o Paranismo visava à afirmação da identidade paranaense. Nas artes plásticas, reuniu nomes como Bakun, Traple, Nísio e De Bona – todos eles, ao lado de Turin. O movimento ganhou corpo durante toda a década de 1920 e atingiu seu ápice nos três últimos anos do período.
Elementos
Turin foi o grande destaque do Paranismo e, além de suas esculturas e relevos, procurou levar os elementos paranistas para o segmento da arquitetura e interiores (como detalhes de projetos de residências, móveis e túmulos) e até mesmo para a moda feminina.
A capa da revista mensal Ilustração Paranaense, onde a imagem de um homem de braços abertos se funde à de um pinheiro em meio a uma floresta de araucárias, sintetiza a proposta estética. João Turin assina a arte. A capa do livro que Teixeira Leite lança agora, em Curitiba, inclusive, é inspirada em antigas edições da revista, publicadas por João Baptista Groff. Na publicação, brilharam os talentos de João Turin, Lange de Morretes, Zaco Paraná, Guelfi, Romário Martins, Bento Mossurunga, Didi Caillet e Arthur Wischral.
O movimento também encontrou entusiastas no historiador Romário Martins e no pintor João Ghelfi, entre outros.
Após retornar da Europa, João Turin ficou no Paraná até sua morte, em 1949.
Memorial Paranista
Em maio, o Memorial Paranista vai completar dois anos, consolidado como um dos principais pólos de cultura, turismo e lazer de Curitiba. O complexo, instalado no Parque São Lourenço, abriga uma coleção de cem obras de João Turin.
Treze obras em grandes dimensões, representando os indígenas e a natureza, estão ao ar livre, espalhadas pelo Jardim das Esculturas, o maior do Brasil. Nas salas de exposições estão esculturas e relevos retratando personalidades curitibanas do mundo das artes, amigos de Turin, cenas indígenas, animais e algumas de suas obras mais conhecidas – O Homem Pinheiro, Pedagogia e Pietá.
O Memorial Paranista também abriga o Ateliê de Esculturas e a Fundição Turin, cujas atividades podem ser apreciadas pelo público visitante.
Para Teixeira Leite, o Memorial Paranista é a consagração da obra de João Turin. “Turin é um artista símbolo do Paraná e esse Memorial é a consagração de todo seu trabalho. Ele conseguiu fazer uma obra em que o próprio estado se reconhece, com a fauna, os bichos, o mate, o pinhão. Existiram outros ótimos artistas, mas é ele que personifica o Paraná, sendo um homem que já morreu, mas continua mais vivo do que nunca”, disse ele, depois de visitar o Memorial.