O telefone tocou numa manhã de domingo e com dificuldade, Bruno abriu os olhos para ir atender. Que saco! - pensou. Não eram nem dez horas e queria dormir. Só dormir! Do outro lado da linha, a mãe ouvia um alô emitido por ele com nenhuma vontade. E ele nem teve tempo de perguntar se tinha acontecido alguma coisa, porque ela já deu logo a notícia: seu pai está na UTI. Fazia alguns meses que Bruno não falava com o pai, e ainda uma vida inteira batendo de frente com o velho. Se Bruno pensava A, ele pensava B; se o pai queria sol, ele queria chuva. E por aí iam as diferenças e teimosias que serviram sempre para fazer crescer um abismo entre eles. Naquela manhã de domingo, ao ouvir a notícia, as diferenças em nada importaram. Ele sentiu um nó na garganta, uma vontade sem fim de dizer ao pai que estavam vivos na memória todos os instantes do futebol, as vezes em que soltaram pipa, o dia que o pai construiu para Bruno um carrinho de rolimã, as vezes que perdeu para o menino no videogame. Dizer a ele que as discussões do passado não tinham sentido naquele momento e tudo o que interessava agora era ter uma oportunidade de abraçá-lo, de deixá-lo perceber o quanto Bruno fora tolo. O rapaz suspirou e pensou: “Não sei se terei a oportunidade de recomeçar minha história com meu pai. Não sei se será possível mostrar a ele que o meu amor existe. Nada disso eu sei! Mas o que eu sei é que as pessoas que, de fato, interessavam em minha vida são aquelas que eu nem sempre valorizarei. Não quero mais receber um telefonema e sentir dor pelo que não fiz. O fazer é agora. O amanhã é incerto demais!”
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