23/04/2023 às 09h19min - Atualizada em 23/04/2023 às 09h19min
Entre o Norte e o Sul
Claudia Vanessa Bergamini
Claudia Vanessa Bergamini Estou há alguns dias em Londrina. Dizem que lar é o lugar que o coração da gente escolhe para estar. E Londrina é de fato a cidade que alegra meu coração. No entanto, grande é o meu, e estando aqui, quero estar lá, e vice-versa. Este, é, pois, como ensina Santo Agostinho, um dos paradoxos humanos: “colocar a felicidade nos lugares onde não se está.” Compartilhada com vocês essas sensações, volto a Rio Branco, Acre, e volto mais especificamente à situação da cheia dos rios. Um mês depois, o rio voltou à sua quase normalidade, a água faz seu curso sem invadir os espaços que não são dela (ou seria melhor dizer: o espaço que o homem invadiu?). Tantas reflexões!!!!
Não consigo me desligar da minha nova cidade, nem dos fatos que a rodeiam. E a enchente, vivenciada por mim pela primeira vez, ainda me toca. Agora o retorno às casas. Limpeza realizada. Lixo recolhido pelos órgãos responsáveis. O que ficou, porém, não se pode retirar, o sentimento de perda, de resignação diante da natureza, são sensações que se amalgamam a tantas outras dores daqueles afetados. Me assustou saber que mais de 500 casas estão condenadas. Por onde o rio passou, a destruição também o fez. O barranco nas encostas está cedendo e, com ele, casas que guardam histórias de vidas estão se esvaindo. Raso é pensar que as pessoas poderiam morar em outro lugar, antes, porém, não podemos esquecer que muitas dessas casas são centenárias, da época em que a cidade girava em torno do rio. E, dessa forma, para seus moradores, é o lugar que o coração escolheu chamar de lar.