Mirante na divisa do Brasil com Peru, ao fundo a Amazônia peruana. (Foto: Divulgação) “A floresta é o pulmão do mundo!” ou “A floresta é rica em espécies!”, talvez essas são as perspectivas que grande parte das pessoas tenha sobre a floresta amazônica. Embora não estejam erradas e, registre-se, já vivi sob essas perspectivas, gostaria de registrar as que construí ao longo dos anos em que aqui vivo. E espero continuar a construir outras.
Por duas vezes, tive a oportunidade de adentrar a floresta, subir em uma voadeira e me lançar, com a condução de um indígena, rio adentro e, depois, mata adentro.
A primeira sensação de que fui tomada diz respeito a aspectos culturais. A cada passo, ou em cada curva do rio, chegavam a mim lembranças do que não vivi, mas vislumbrei naquele momento. Lembranças dos povos que ali viveram, do conhecimento que detinham em relação às plantas, aos sons, ao movimento das águas e dos animais. Ao visitar as comunidades, pude conversar com alguns moradores indígenas e ribeirinhos, e aí só cresceu minha admiração pela simplicidade com que agem, vivem, sobrevivem e pela sapiência sobre a vida. Não essa vida agitada em que vivemos, mas uma vida descomplicada, em que o tempo corre lento e os desejos e necessidades são bem menores do que os nossos repletos do universo capitalista.
A segunda perspectiva foi econômica. Tentarei explicar. Na floresta pulsa dinheiro. Dinheiro em água abundante, em plantas inimagináveis que a indústria farmacêutica transformaria em valor. Em madeira, inclusive aquelas chamadas de lei, cujo diâmetro de algumas árvores ultrapassa dois metros. Rica em minérios que dispensam comentários. A questão é: eu pensei em tudo isso, porque meu olhar é permeado pelo olhar do homem da cidade. Os povos da floresta precisam de pouco dinheiro e muito sossego. Vivem da agricultura de subsistência e vivem bem, pois o tempo na floresta é outro. A vida vale mais e tudo o que a natureza oferece é cuidado com respeito e amor. Tomei para mim essa lição, estou em exercício para absorvê-la, e me sinto uma aluna aplicada, porque a lição é cultural e cada um que dela aprender sairá rico em saberes, saberes com novas perspectivas.