Do Norte para o Sul
O Menino Maluquinho, Ziraldo
Eu tinha 9 anos de idade quando li O menino Maluquinho. Peguei o livro na biblioteca da escola, estava na 3 série primária da, à época, Escola Estadual Deputado Nilson Ribas, em Cornélio Procópio. Levei-o para casa e realizei a leitura. Caiu a noite. Em casa não havia energia elétrica, apenas um lampião a gás iluminava a sala. Atravessei a rua, passei pelo quebra-mola que dividia a parte iluminada da não iluminada. Sentei-me no meio-fio, embaixo do poste de luz, e reli. Que prazer senti ao conhecer aquele menino real, com suas travessuras, os desenhos de traços leves, engraçados que reproduziam as sensações que as palavras provocavam. Ontem, ao tomar conhecimento da morte de Ziraldo, o criador desse menino maluquinho que eu carrego comigo desde a infância, eu lamentei a perda do escritor e refleti sobre a importância da literatura na formação de uma pessoa. Quantas sensações foram despertas, quantas lembranças foram revividas. Nas aulas de Literatura infanto-juvenil, eu falo de Ziraldo e, com a última turma, eu descrevi exatamente a sensação de ler, aos 9 anos, O Menino Maluquinho. Hoje, escrevendo esta crônica, emociono-me e rio ao lembrar o que senti quando li que ele tinha fogo no rabo. Esta era uma palavra proibida, lê-la era cometer um pecado e poder repeti-lo a cada leitura. Sou grata a Ziraldo pelo pecado que me permitiu cometer. Sou grata a ele por fazer reviver o passado dentro de mim a cada vez que falo do livro ou o releio. A eternidade existe para quem sabe construir o eterno em ações, em palavras. O Menino Maluquinho não sabia segurar o tempo, Ziraldo também não, assim como eu e você também não sabemos. O tempo levou Ziraldo, ele não é imortal, mas a sua obra ecoará dentro dos leitores para sempre. Obrigada, Ziraldo!
