22/04/2024 às 14h52min - Atualizada em 22/04/2024 às 14h52min

Empresas investem em economia circular e Paraná vira polo de reaproveitamento

AEN

Jonathan Campos/Secom
Empresas dos mais variados portes especializadas em economia circular e logística reversa têm expandido as suas atividades a partir do Paraná e colaborado com os índices que fazem com que o Estado seja considerado o mais sustentável do Brasil. Além de iniciativas das próprias instituições privadas, políticas públicas geridas pelo executivo estadual têm ajudado a estimular o setor, que demonstra claros sinais de que está em franco crescimento.

Diferentemente do modelo linear, caracterizada pela extração de insumos para produção, consumo e descarte, a economia circular visa conservar o valor dos recursos extraídos e produzidos, mantendo-os em circulação por meio de cadeias produtivas integradas. O modelo prioriza o reaproveitamento, reparo, reuso e a remanufatura de resíduos.


A Circle Economy, entidade apoiada pela Organização das Nações Unidades (ONU), projeta um aumento de 8,6% para 17% na proporção de materiais reutilizados até 2032, o que geraria uma redução de 39% nas emissões de gases do efeito estufa no período. Outro dado relevante é do Relatório Global de Economia Circular da consultoria multinacional Accenture, que aponta que transição para um modelo de economia circular poderia gerar uma economia de até US$ 4,5 trilhões até 2030 no mundo.

Uma das referências mais recentes do segmento no Paraná é a Packem, empresa especializada na reciclagem de grandes embalagens, e que investiu R$ 75 milhões para a instalação de no de uma fábrica de 9 mil metros quadrados na Cidade Industrial de Curitiba, inaugurada no início de abril. A estrutura, construída em uma área total de 35 mil metros quadrados, tem capacidade para reciclar 1,2 bilhão de garrafas pet por ano.

Na última terça-feira (16), a Packem inaugurou uma nova unidade produtiva na Índia, em parceria com uma empresa local, em um evento que contou com a participação do governador Carlos Massa Ratinho Junior durante missão internacional ao país asiático. Assim como a unidade paraense, a fábrica indiana transformará o material coletado nas chamadas big bags, que são grandes embalagens flexíveis usadas para transporte ou armazenamento de produtos em pó, a granel ou líquidos, como fertilizantes, alimentos, minérios ou sementes.

“Sabemos o grande problema que o lixo plástico representa ao planeta, por isso nos debruçamos em pesquisa para criar um material totalmente sustentável. Por isso trabalhamos com todos os elos dessa cadeia, desde a captação do material até a produção final. Hoje fazemos uma big bag reciclando 120 garrafas de plástico. Esperamos que essa iniciativa incentive outros projetos de economia circular e sustentabilidade, eliminando o plástico virgem das operações”, afirmou o CEO da Packem no Brasil, Lázaro Eduardo dos Santos Neto.

O exemplo da Packem é um entre vários empreendimentos em solo paranaense que têm apostado forte em um setor que está cada vez mais em evidência devido à emergência global do clima, o que faz com que ações focadas na redução do desperdício e redução de emissão de poluentes seja cada vez mais urgente.

LOGÍSTICA REVERSA – Entre os indicadores que colocam o Paraná como referência em economia circular e sustentabilidade estão os altos índices de coleta e destinação adequada do lixo e de reciclagem. Um relatório da verificadora independente de resultados Central de Custódia a partir de dados de 15 entidades que gerem a coleta de embalagens no Brasil mostrou que o Paraná recuperou 70 mil toneladas de embalagens pós-consumo no ano, atrás apenas de São Paulo, que tem uma população quatro vezes maior.

Atualmente, o Estado possui parcerias com quatro entidades gestoras, com vigências que vão até 2031, nas áreas de baterias de chumbo ácido e suas embalagens pós-consumo, lâmpadas pós-consumo, papel e celulose e embalagens de aço. Em 2023, foram contabilizadas 15 mil toneladas de baterias e 1,123 milhão de unidades de lâmpadas recolhidas.

No início de abril, a Votorantim inaugurou a sua primeira unidade exclusiva da Verdera, o ramo de negócios da empresa dedicada ao coprocessamento de resíduos, em Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. O local tem capacidade de triturar 48 mil toneladas de resíduos por ano, quase o triplo da estrutura já existente anteriormente.

Com uma área de 4,4 mil metros quadrados, o galpão foi equipado com um triturador de resíduos de última geração para a destinação sustentável de materiais não recicláveis, como móveis, produtos paletizados e resíduos armazenados em tambores. Eles são tratados e transformados em energia limpa, com menor emissão de CO2, para produção de cimento na fábrica da Votorantim em Rio Branco do Sul.

De acordo com o gerente-geral da Verdera, Eduardo Porciuncula, a nova unidade de Itaperuçu tem capacidade de atender o setor produtivo do Estado. “O coprocessamento é uma tecnologia consolidada mundialmente, que elimina os resíduos de forma sustentável e não gera novos passivos ambientais. Com a nossa nova unidade, vamos apoiar as indústrias e empresas de todo o Paraná de forma consistente na prática de circularidade”, disse.

BIODIESEL – Instalado na Lapa, também na RMC, o Grupo Potencial possui a maior unidade produtora de biocombustível concentrada em uma só planta no Brasil. A companhia investiu R$ 1,7 bilhão na ampliação da estrutura, que tem como base de produção o óleo de cozinha usado (75%) e os resíduos de gordura animal (25%), o que resulta em um combustível menos poluente e auxilia no descarte correto dos materiais. Somente em 2023, o Grupo Potencial utilizou mais de 9 milhões de litros de óleo de cozinha usado na produção de biodiesel.

Com a determinação do Ministério de Minas e Energia de aumento no percentual do biocombustível de 12% para 14% na composição do diesel, a expectativa da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) é de que a demanda por esse insumo no mercado nacional suba para 8,9 bilhões de litros, um aumento de 22% na comparação com 2023.

Recentemente, a Potencial fechou uma parceria com uma grande rede de fast-food para o recolhimento semanal do óleo de cozinha usado nas lojas. “Hoje, nós compramos de fornecedores parceiros mais de 600 toneladas por mês de óleo de cozinha usado, que são entregues diretamente na usina dentro de um padrão de qualidade estabelecido. Agora, estamos tentando viabilizar projetos ligados diretamente com o consumidor final”, explicou o gerente comercial na Potencial Biodiesel, Caio Arakaki.

BIOGÁS – Outra área de atuação que vem ganhando novos investidores no Paraná é a geração de energia a partir do gás metano emitido nos aterros sanitários. Em parceria com uma empresa suíça, a holding Ambiensys, de Curitiba, importou uma tecnologia para aterros de pequeno e médio porte que apresenta 95% de eficiência na produção de biogás. A solução é personalizada de acordo com cada cliente e envolve sistemas de tanques de armazenamento em plantas modulares com contêineres para desgaseificação. Atualmente, há cerca de 450 unidades de destinação final de resíduos no Estado, sendo a maioria aterros sanitários.

De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, os lixões e aterros controlados precisam comprovar até o fim de 2024 o investimento em destinação correta dos resíduos das cidades, o que envolve a eventual expansão ou criação de novos aterros sanitários e a contratação de empresas especializadas nesse tipo de trabalho, o que deve aumentar a demanda pelos serviços de empresas como a Ambiensys.

“O metano é altamente nocivo para o meio ambiente, e com essa tecnologia a gente consegue captar esse gás, transformando um passivo ambiental em energia elétrica, o que é benéfico para todas as partes envolvidas”, argumenta o gerente de Novos Negócios do Grupo Ambiensys, Lucca Barros. “Essa parceria que firmamos vai ajudar a ampliar os índices de tratamento de resíduos do Paraná e do Brasil".

O biogás e o biometano também têm se tornado alternativas financeiras viáveis para os pequenos e médios agricultores graças às políticas de incentivo do programa Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR), criado pelo Estado em agosto de 2021. O maior volume de recursos do programa até o momento foi para a instalação de sistemas de energia solar, mas 72 propriedades que trabalham com a criação de animais já instalaram usinas para a transformação os resíduos animais em biogás e biometano, totalizando quase R$ 60 milhões em investimentos.

Um dos casos mais recentes foi o de um suinocultor de Carambeí, nos Campos Gerais, que investiu mais de R$ 1 milhão para produzir biometano a partir dos dejetos dos porcos. O produto é vendido para abastecer a frota de caminhões da Coopercarga, que possui operações logísticas em nível nacional e internacional. Utilização do biogás em larga escala é um dos compromissos assumidos pelo Governo do Estado junto a diversas entidades paranaenses.


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