Divulgação/UEM Três gerações da família da indígena Gilda Kuita Rodrigues, de 68 anos, graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 2023, estudam ou já se formaram na instituição. Ao todo, são 11 integrantes da família Kaingang, dentre eles, cinco filhos: Ivan, Jaciele, Janaína, Jaqueline e Sérgio, e seis netos, Alexia, Aline, Jean Carlo, Julian, Natã e Voia. Quatro dos cinco filhos se formaram em Ciências Biológicas, Enfermagem, Direito e Pedagogia e uma filha está cursando Serviço Social. Entre os netos, há alunos de Agronomia, Direito, Medicina e Pedagogia.
A mestranda indígena Neidemara Araújo de Souza, de 27 anos, da etnia Ticuna, que fica situada no Alto Solimões (Amazonas), decidiu estudar em Maringá porque o marido já estava fazendo doutorado na UEM, na área de Engenharia Química. Após concluir o Mestrado ela pretende fazer o doutorado na UEM.
Esses são mais exemplos do acesso de indígenas ao ensino superior no Paraná, incluindo graduação e pós-graduação. A UEM já formou 49 indígenas e tem, atualmente, 59 matriculados. Os três cursos de graduação mais procurados são Enfermagem, História e Pedagogia, mas também há estudantes em Administração, Arquitetura, Ciências Biológicas, Direito, Educação Física, Física, Geografia, Letras, Medicina, Odontologia e Serviço Social. Na pós-graduação, a UEM formou o primeiro mestre indígena do Paraná. Até o momento, graduou três mestres e, atualmente, tem três indígenas no mestrado e dois no doutorado.
Segundo a coordenadora da Comissão Universidade para os Índios (Cuia) da UEM, Maria Christine Berdusco Menezes, essas histórias são exemplos de como o Vestibular dos Povos Indígenas no Paraná, criado em 2001, vem cumprindo com o seu papel de inclusão desta parcela da população na academia. “O interessante é que a maioria se forma e volta para suas comunidades ou para suas lutas por direitos. Um exemplo disso é o Ivan, um dos filhos da Gilda. Ele concluiu os estudos e hoje está na representatividade da saúde indígena”, diz. Atualmente, Ivan Bribis Rodrigues é coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Litoral Sul, do Ministério da Saúde.
A coordenadora da Cuia acredita que o motivo da UEM ser uma universidade com muitos alunos e formandos indígenas é fruto também do trabalho desenvolvido com os povos originários no Paraná há mais de 30 anos com o Tulha (Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história – LAEE). Ela lembra que na escola estadual da Terra Indígena Apucaraninha, em Tamarana, todos os professores são indígenas, sendo que cerca de 80% são formados pelos cursos da UEM e a maioria pelo EaD.
“Esta modalidade de ensino ajuda muito, pois não precisam sair da comunidade para vir estudar presencialmente em Maringá, evitando gastos com deslocamento, moradia e alimentação, além de ficarem próximos às famílias, favorecendo, principalmente, as mulheres. Dos 59 alunos matriculados na graduação, 28 estão estudando pelo EaD”, detalha.
Além do apoio e acompanhamento pedagógico prestado pela equipe da Cuia, a UEM disponibiliza uma sala na Biblioteca Central (BCE) exclusiva para uso dos estudantes indígenas. Neste espaço, eles se reúnem para estudar e trocar experiências.
PÓS-GRADUAÇÃO – A mestranda indígena está bem feliz na UEM. “Em minha busca por universidades para fazer a pós-graduação, verifiquei que a UEM tinha um bom conceito e também a linha de pesquisa da Educação Escolar Indígena, que eu queria, pois o meu tema de estudo é a Formação Inicial dos Professores Indígenas Ticunas do Estado de Amazonas. Ingressei aqui em 2022 e, hoje, passei pelo exame de qualificação da minha pós-graduação”, afirma. A amazonense é orientada pela professora Menezes.
Na avaliação dela, que entrou na universidade pelo sistema de cotas, esta política das universidades de reserva de vagas é muito importante para os povos indígenas. Ela também enfrentou dificuldades. “Os olhares que eu recebia dentro da minha turma, na sala de aula, me inibiam. Era um sentimento de exclusão, como se eu não fosse capaz. Além disso, teve o choque cultural, pois venho do Norte do País, onde a realidade e o povo é muito diferente. Mas aos poucos tudo foi se encaixando”, afirma.
Agora habituada, ela já pensa no próximo capítulo. “Quero dar continuidade à minha formação. É uma luta minha mesmo, devido às minhas experiências, do período que atuei como pedagoga específica da minha etnia na Secretaria Municipal de Educação do meu município. Quero tentar solucionar os problemas que eu vivi. Contribuir e fortalecer essa causa da formação dos professores indígenas Ticunas. A gente tem que lutar para fazer valer essas políticas existentes, nos âmbitos estaduais e municipais", afirma.
CICLO – O início do próximo calendário acadêmico da graduação do ano letivo de 2024 da UEM será marcado por uma programação específica voltada para os estudantes indígenas. Nos dias 16 e 17 de maio, a Comissão Universidade para os Índios (Cuia) da UEM promove o Ciclo de Debates Interculturais 2024 - UEM: Os Desafios do Ensino Superior Indígena no câmpus sede da instituição. O objetivo é recepcionar os calouros indígenas e integrá-los à comunidade estudantil.
VESTIBULAR – A Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com as universidades estaduais do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), divulgou nesta quinta-feira (18) o resultado do XXIII Vestibular dos Povos Indígenas. A lista traz o total de 306 candidatos classificados no processo seletivo, conforme as regras do edital conjunto Nº 01/2023, que instituiu o vestibular. A partir da homologação do resultado, os candidatos classificados, no limite das vagas, deverão realizar a matrícula em primeira chamada, em dias e locais específicos.
Conforme o resultado, 26 candidatos estão classificados para ocuparem as vagas ofertadas pela UEL. A universidade do Paraná com o maior número de classificados foi a Universidade Estadual de Maringá (UEM), com 74, seguida das estaduais do Norte do Paraná (UENP) e do Oeste do Paraná (Unioeste), com 39 cada, e do Centro-Oeste (Unicentro), com 36. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) conta com 41 classificados.