09/08/2023 às 13h57min - Atualizada em 09/08/2023 às 13h57min
Brigadistas indígenas ajudam a conservar o patrimônio natural do Paraná
AEN
Divulgação/AEN A enfermeira Cleonice Pacheco Amorim, de 46 anos, trabalha na Casa de Saúde Indígena (Casai-Curitiba). Mas além dos cuidados com os pacientes, ela abraçou mais uma responsabilidade: ser brigadista voluntária contra incêndios na Floresta Estadual Metropolitana, em Piraquara, cidade vizinha à capital paranaense. Ela e mais seis membros da comunidade indígena que residem na floresta foram preparados há um ano pelo Instituto Água e Terra (IAT) e pelo Corpo de Bombeiros do Paraná para atuarem no enfrentamento ao fogo na Unidades de Conservação (UC) do Estado. Uma história que ajuda a celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado nesta quarta-feira (9).
No meio indígena Cleonice atende pelo nome de Kunhã Wewé. Ela é da origem Guarani Ñandeva, que ao lado de outros 42 indígenas das etnias Kaingang, Tukano e Terena, formam a comunidade que administra a Floresta Estadual Metropolitana. A gestão é compartilhada com base em um Termo de Cooperação entre o IAT e o Instituto e Centro de Formação Etno Bio Diverso Angelo Kretã – a formalização da parceria se deu no 19 de abril de 2023, com a assinatura do governador Carlos Massa Ratinho Junior.
“Nós temos o nosso jeito de cuidar da natureza e quando tem incêndio a gente consegue controlar. Mas o curso somou ao nosso conhecimento. Agora temos técnicas não indígenas para não deixar o fogo se espalhar”, afirma Cleonice. O local tem 4,4 hectares de mata e uma vegetação propícia para grandes queimadas, por isso os indígenas foram capacitados e instrumentalizados com técnicas para combate direto do fogo.
Munidos com abafadores e bombas d’água fornecidos pelo IAT, o grupo de brigadistas indígenas precisou agir em julho deste ano para impedir que um incêndio avançasse floresta a dentro. “O meu marido viu que o fogo começou pela BR-116 e estava se alastrando. Imediatamente realizamos os procedimentos iniciais de contenção do fogo até a chegada do Corpo de Bombeiros”, relembra.
De acordo com o líder da comunidade indígena, Kretã Kaingang, graças ao olhar atento dos moradores já se percebe a restauração da floresta em alguns pontos. “É só a gente proteger. O não índio não tem noção da quantidade de animais que existem ali. Por isso é necessário fazer o tratamento diário, inclusive combatendo com agilidade qualquer foco de fogo”, explica.
“A sociedade precisa compreender e estar sensibilizada de que é possível visitar uma Unidade de Conservação respeitando a legislação, que coíbe, inibe e proíbe o uso de fogueiras ou aparatos que produzam chamas”, reforça o diretor de Patrimônio Natural do IAT, Rafael Andreguetto. Para ele, a atuação de todos os brigadistas voluntários, sejam indígenas ou não, é fundamental o desenvolvimento sustentável do Estado. “Sensação de pertencimento, de cuidar de uma área que é de todos”.
O coronel Antônio Hiller, do Comando do Corpo de Bombeiros do Paraná, também destaca o apoio dos brigadistas voluntários no combate ao fogo. “Nem sempre os bombeiros dessas regiões são suficientes para fazer o enfrentamento”, diz. Atualmente, o Paraná conta com cinco brigadas de incêndio e 200 voluntários com formação atuando em diferentes pontos do Estado. Além disso, um novo grupo está em processo de capacitação.
AÇÕES – Trabalhando em coparticipação com o IAT na gestão do parque, a comunidade indígena intensificou as ações no local. Uma delas foi abrir o espaço para visitação de alunos das escolas da rede pública de Piraquara. A outra é promover a educação ambiental sob a ótica dos povos originários da floresta, disseminando a cultura das etnias Guarani Yandeva, Tukano, Kaingang e Terena. “É uma forma de ensinar as crianças a quebrar preconceitos”, afirma o líder Kretã Kaingang. “Em um ano, mais de 2 mil mudas de plantas nativas foram distribuídas, tivemos visitas guiadas, apresentações, jogos, artes. Conseguimos repassar a história da cultura indígena. A nossa presença aqui nessas terras é construtiva, e só pôde ser viabilizada com esse Termo de Cooperação Técnica com o IAT”.
Outro ponto é garantir o restauro ambiental e ampliar a área com vegetação nativa. De acordo com os indígenas, grande parte do parque é tomada por espécimes de flora exótica (não natural, geralmente inserida naquele ambiente por fins econômicos), como pinus e eucalipto. Apenas 20% são de floresta nativa, com árvores como araucária, flora originária da Mata Atlântica.