11/02/2023 às 09h53min - Atualizada em 11/02/2023 às 09h53min

Dia Mundial da Mulher na Ciência: cientistas paranaenses destacam desafios e conquistas

Agência Estadual de Notícias

Arnaldo Alves/AEN
No Paraná, a participação das mulheres no desenvolvimento da ciência e tecnologia está cada vez mais em evidência – realidade a ser comemorada no Dia Mundial das Mulheres e Meninas na Ciência, neste sábado, 11 de fevereiro. Dos 986 convênios vigentes da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico para projetos com instituições de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), 435 (44%) são coordenados por pesquisadoras. Das bolsas de pesquisa e extensão, cerca de 50% são de mulheres – em torno de 4.500 do total de 8.800.
“Neste século, tivemos um aumento expressivo no número de doutoras e pesquisadoras no Estado. Dos 21 mil doutores, cerca de 5,5 mil são mulheres. E esperamos que aumente até chegarmos a um número compatível com o percentual de mulheres na sociedade”, destacou o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig.
“Há muita dedicação e muita entrega para fazer com que, realmente, a ciência e a tecnologia estejam à disposição da nossa sociedade e, cada vez mais, contribuam com o desenvolvimento socioeconômico da população paranaense e brasileira”, completou Wahrhaftig.

Para aumentar esse fomento, o Governo do Estado lançou o programa Mulheres Paranaenses: Empoderamento e Liderança, articulado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e financiado pela Fundação Araucária. Ele promove o apoio financeiro a instituições de ciência e tecnologia paranaenses para projetos que tenham o público feminino como beneficiário.
Lançada em 2022 a ação resultou no desenvolvimento de 86 projetos de extensão e pesquisa acadêmicas focados no empoderamento feminino. Pesquisadores e extensionistas de 13 diferentes instituições de ensino superior e de pesquisa do Paraná contam com um orçamento de R$ 4 milhões para o desenvolvimento de seus projetos.
As mulheres também participam com protagonismo dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPIs). Eles são direcionados para atender demandas setoriais, regionais e estaduais, de forma integrada, para melhorar o aproveitamento de ativos paranaenses. A ênfase do trabalho está na melhor mobilização e integração entre pesquisadores, empresas líderes, terceiro setor dentro de temas específicos, como Biogás, Nanotecnologia, Recursos Genéticos e muitos outros.
DEDICAÇÃO E DESAFIOS – E alguns dos exemplos dessas mulheres são incríveis. O sustento da família e o tempo disponível para balancear filhos e demandas da carreira foram os principais desafios enfrentados pela pesquisadora e professora de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Angelica Beate Winter Boldt. Ela é mãe de três.
“Por vezes, o sonho de me tornar pesquisadora foi sustentado pelo meu marido. Marcos também me acompanhou em 2002 para o doutorado integral na Alemanha (com bolsa do CNPq e adicional para dependentes) e ficou cuidando dos dois filhos pequenos, um com cinco e outro com um ano e meio, enquanto eu trabalhava no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de Tübingen”, conta.
Segundo ela, ao longo dos 27 anos como pesquisadora – dos seus 49 – a obtenção de fomento para realizar os projetos de pesquisa foi outro grande desafio. “Esta situação tornou-se mais tranquila a partir de 2016, quando surgiu o projeto Mennogen, que considero ser o marco zero do período mais maduro da minha carreira”, afirma
O projeto visa a descrição e investigação do perfil genético associado a padrões epidemiológicos das comunidades menonitas latino-americanas. Ele começou sem fomento, mas em seguida houve incremento com colaborações nos Estados Unidos e Alemanha, até chegar ao NAPI Genômica ou Genomas Paraná, da Fundação Araucária e Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Atualmente ela toca o projeto MedEpiGen, aprovado no edital de pesquisa para o SUS e de âmbito estadual, com colaborações de cinco universidades do Interior do Estado. O Genomas Paraná é uma iniciativa inédita de pesquisa científica e tecnológica no Brasil, que pretende descrever o perfil genético e epidemiológico da população. Ele envolve mais de 400 pesquisadores.
“Políticas públicas que possibilitem o exercício da maternidade e da carreira acadêmica são frutíferas. Sei por experiência própria que ambas são perfeitamente conciliáveis e enriquecem tremendamente a trajetória de vida”, completa.
FORÇA FEMININA – Desde muito pequena a pesquisadora Carla Forte Molento sempre gostou de aprender sobre as coisas e tentar entender como o mundo funciona. “Dizia que queria fazer pesquisas sobre animais desde antes de entender como isso poderia ser feito. E o apoio da minha mãe foi fundamental”, conta a hoje coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias e do Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR.
Casada com um pesquisador e mãe de três filhos, ela acredita que ações inclusivas para aumentar o número de cientistas são fundamentais. Segundo Carla, cientista há 19 anos, a força feminina é grande em sua área de pesquisa, de Proteínas Alternativas, também tema de um Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação apoiado pela Fundação Araucária.
Um grande desafio para ela foi perceber como os animais eram e ainda são tratados no ambiente acadêmico-científico e também em várias outras práticas amplamente difundidas, como produzir alimentos. “Quanto mais competência e efetividade eu tiver em meu trabalho, mais eu poderei contribuir para atenuar as atrocidades que ainda são cometidas a cada ano”, explica Carla Molento.
INSPIRAÇÃO – Histórias como a das pesquisadoras atravessam gerações e inspiram a jovem Ana Luiza Goularte da Silva, de 18 anos. Estudante de escola pública e moradora de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, ela é caloura no curso de Nutrição da UFPR.
Com o projeto “Políticas Públicas para Educação Sexual e Pobreza Menstrual no Brasil: Um estudo de caso em instituições de ensino no Paraná”, Ana Luiza tem participado de feiras de ciências desde o início da pandemia, quando se interessou ainda mais pela ciência.
“Ser mulher e fazer ciência é um ato de resistência muito grande. Eu quero ser uma cientista”, afirma a jovem, que integra um grupo de meninas que conquistaram o primeiro lugar em Ciências Sociais Aplicadas na edição de 2021 da Feira de Inovação das Ciências e Engenharias (Ficiências), promovida pela Itaipu Binacional em parceria com universidades públicas.
“Durante a pandemia vimos a importância da ciência no desenvolvimento das vacinas e a importância das universidades. Para mim a ciência é essencial porque você ajuda a mudar o mundo”, relata.
 


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