24/09/2024 às 12h31min - Atualizada em 24/09/2024 às 12h31min

Com investimentos bilionários, Paraná alavanca industrialização da soja no País

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Roberto Dziura Jr/AEN
Investimentos de quase R$ 5 bilhões feitos por cooperativas e grupos empresariais do Paraná, que já é um dos maiores produtores de soja do Brasil, consolidam o Estado como um dos principais polos de industrialização deste produto. A estratégia adotada por cooperativas e empresas busca agregar mais valor aos produtos, o que beneficia toda a cadeia produtiva e alavanca a economia estadual.

Enquanto a maior parte do grão in natura é destinado para exportação para a China, União Europeia e Oriente Médio, uma crescente parcela da soja passou a ser processada no Estado, transformando-se em derivados como óleo, farelo, biodiesel e outros produtos de alta qualidade para consumo humano e animal. No Paraná, este processo está sendo liderado pelas cooperativas paranaenses e outras grandes empresas do segmento.


A adoção de tecnologias mais modernas no cultivo e processamento do grão, que garantem alta produtividade e menos desperdício com o reaproveitamento de insumos está alinhada ao desenvolvimento econômico e à preservação ambiental. A industrialização também retroalimenta o agronegócio, especialmente a pecuária, que utiliza o farelo de soja como ração para os animais, agregando ainda mais valor à produção paranaense na forma de outros produtos alimentícios.

Dados da Pesquisa Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) ajudam a explicar este cenário de ascensão da soja industrializada.

Os números mais recentes demonstram que o Paraná ampliou de R$ 14,9 bilhões em 2019 para R$ 30,5 bilhões em 2022 o Valor Bruto da Produção Industrial (VBP) na fabricação de óleos e gorduras, com a soja representando o maior peso em termos financeiros. O Valor da Transformação Industrial (VTI), indicador usado para calcular a riqueza efetivamente gerada pela indústria ao transformar insumos em produtos acabados, também foi ampliado de R$ 5,1 bilhões para R$ 9,5 bilhões neste período.

Para estimular o segmento, o Governo do Estado tem incentivado a expansão da cadeia produtiva, com investimentos em infraestrutura logística. Estes projetos ocorrem de fora mais ampla, incluindo melhorias das condições das rodovias, estradas rurais e portos, mas também mediante a concessão de incentivos fiscais para que as empresas ampliem a sua estrutura e invistam em melhorias no entorno onde estão inseridas.

De acordo com o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, a soja é o principal produto das cooperativas paranaenses. Atualmente, há 13 indústrias de esmagamento, além de quatro especializadas em refino, duas em biodiesel e uma em margarina e óleos comestíveis. “As cooperativas brasileiras têm uma capacidade de esmagamento de 25 mil toneladas de soja por dia, das quais 20 mil toneladas são esmagadas no Paraná”, esclarece Ricken.

Das cerca de 150 milhões de toneladas de soja produzidas no Brasil por ano, 50 milhões de toneladas são esmagadas e o restante é exportado como grão. “A rentabilidade líquida de comercialização de grãos é muito pequena, não ultrapassando 2%, e quando ela passa pela industrialização essa rentabilidade pode chegar a 4,6%, então ela serve como um indutor de riqueza, tendo um peso relevante para a economia paranaense”, argumentou o presidente da Ocepar.

Durante o processo de esmagamento da soja, que transforma os grãos em óleo e farelo, ela é separada da casca e prensada em flocos, que são embebidos em solvente para a extração do óleo bruto. O material restante é seco e moído para gerar o farelo de soja, utilizado principalmente como ração animal. “O farelo é importante porque é usado na alimentação de aves e suínos, cuja carne também está entre os produtos mais importante para as cooperativas”, justificou.

VALOR AGREGADO

Com um investimento de R$ 1 bilhão, a esmagadora de soja da C.Vale em Palotina começou a operar em novembro de 2023 em uma estrutura que ocupa 12 hectares do seu complexo industrial. Trata-se da terceira maior esmagadora do Brasil em plantas industriais de apenas uma linha de produção e a primeira em nível tecnológico. Cerca de 30% do farelo e do óleo produzidos abastece as indústrias de rações da C.Vale, enquanto o excedente é comercializado com outras empresas.

Segundo o presidente da C.Vale, Alfredo Lang, os investimentos na industrialização da soja iniciaram na década de 1990 a partir da percepção das cooperativas sobre os potenciais ganhos financeiros em relação ao grão. “Percebemos que não dava mais para ficar só comprando e vendendo grãos porque as margens eram apertadas e o futuro estava na industrialização. Isso gera mais renda ao produtor, receita para as cooperativas, empregos, oportunidades de negócio para prestadores de serviço e aumento na arrecadação de impostos, então todos saem ganhando”, afirmou.

Em agosto, o Governo do Estado autorizou o início das obras de construção de um contorno viário de 15,2 quilômetros no município, em parceria com a cooperativa, para melhorar a logística de chegada dos insumos na fábrica e distribuição dos produtos à base de soja. Orçado em R$ 169,3 milhões, o projeto está sendo executado pela C.Vale, com abatimento de impostos estaduais proporcionalmente ao valor investido.

Atualmente, o empreendimento processa cerca de 40 mil sacas diariamente, o que equivale a 66% de sua capacidade de produção máxima. A meta da cooperativa é alcançar a capacidade plena até outubro, quando cerca de 60 mil sacas deverão ser processadas por dia, o que equivale a 3,5 mil toneladas.

De acordo com o presidente da C.Vale, a empresa trabalha em ajustes nos processos fabris para ampliar o leque de produtos. “A industrialização da soja nos dá a oportunidade de produzir farelo, óleo, margarina, maionese e outros derivados, o que vai depender de estudos de rentabilidade”, disse Lang.

MAIOR DO BRASIL

Localizada na Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba, a nova esmagadora de soja do grupo Potencial, cujas obras começaram no fim de junho de 2023, está recebendo investimento de R$ 1,7 bilhão. A esmagadora está sendo construída no Complexo Industrial do Grupo Potencial, junto à usina de biodiesel da companhia, que é a maior do Brasil e a terceira maior do mundo.

“Hoje, a maior matéria-prima usada na produção do biodiesel é o óleo de soja, que corresponde em torno de 80% a 85%, sendo a maior parte dela originada dentro do Paraná”, disse o vice-presidente Comercial, Operacional e de Relações Institucionais do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt.

Este é o maior investimento dos próximos anos do grupo, que se projeta para tornar-se um dos líderes mundiais do setor de esmagamento. Após a sua conclusão, a planta terá capacidade de processar cerca de 3.,5 mil toneladas de soja por dia, ou 1,15 milhão de toneladas por ano a partir de 2025. Com a ampliação, a Potencial continuará adquirindo óleo de soja pronto de outros fornecedores, mas a esmagadora será responsável por quase metade da principal matéria-prima da usina.

Estão sendo construídos dois silos para armazenamento de soja, com capacidade de 150 mil toneladas cada, e outro silo, com capacidade de 100 mil toneladas, para armazenar o farelo, um dos resíduos da extração do óleo, que pode ser utilizado na produção de ração e outros produtos e será comercializado nos mercados interno e externo.

“É um novo segmento para nós, mas que vai ao encontro do nosso objetivo de protagonizarmos essa transição de um agronegócio aliado à indústria dentro de um modelo mais sustentável”, disse o vice-presidente da Potencial. “Serão mais de 300 empregos diretos gerados, quase dobrando o número de empregados trabalhando nesse complexo industrial e atingindo mais de 2 mil pessoas entre prestadores de serviços e outros parceiros comerciais”, acrescentou Hammerschmidt.

Por meio de um acordo com o Governo do Estado para descontos no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o grupo Potencial pavimentou parte das vias urbanas do entorno da usina e da futura esmagadora. Após a sua conclusão, estão previstos novos pavimentos no contorno da área do completo e a construção de um terminal ferroviário para ligar a planta com a linha férrea que vai até o Porto de Paranaguá.


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