16/11/2023 às 20h03min - Atualizada em 16/11/2023 às 19h57min

Reminiscências

Claudia Vanessa Bergamini

Claudia Vanessa Bergamini

Do Norte para o Sul

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Não sei se as variações da temperatura do Planeta, sobretudo, neste último mês, não sei se a ansiedade para finalizar tarefas e sair em férias rumo ao Paraná, não sei ainda se todos esses pontos somados a outros, o fato é que ando indisposta para escrever. Escrever é ação que depende do modo como estou comigo, do modo como estou com o outro e do modo como estou com o mundo. Acordo, penso, tenho mil ideias e me proponho a desenvolvê-las, mas as atividades cotidianas, o calor e a ansiedade roubam de mim todas aquelas ideias. Todavia, como a vida é feita de sensações e momentos que ora nos esquentam ora nos esfriam, fui aquecida completamente ontem por uma reminiscência. Abri uma gaveta e lá estava uma peça que fez toda a diferença em meu dia. De tom verde bem clarinho, a delicada trama em crochê encheu minha mão e meu coração. Esqueci o calor, os deveres diários, a ansiedade e me vi tomada pela lembrança. Eu, menina, ela, mulher: mamãe. Lenço verde de crochê na cabeça, mãos hábeis para preparar pães e tantos outros alimentos, corpo cansado, olhar sempre vivo e pronto a atender os pedidos dos filhos. A memória sabe mais de mim do que eu dela! A frase de Eduardo Galeano nunca fez tanto sentido em minha vida como tem feito nos últimos anos. A memória, de fato, guarda o que vale a pena. Desde ontem têm chegado a mim as imagens que não puderam ser registradas em foto, compostas por situações casuais de um dia de semana. É incrível, porém, como uma peça pequena e delicada como o lenço que mamãe usou por tantas vezes permitiu viver as imagens do passado. Segurei-o firme em minhas mãos e isso bastou para eu estar em outro lugar. À noite, decidi usá-lo como ornamento no cabelo, não para reconstruir o que ela foi, mas para me permitir ter um pedacinho do passado grudado em mim. O que vivemos não pode ser revivido, a vida não tem rascunho, cada dia é uma folha em branco, na qual são escritas nossas histórias; no entanto, as reminiscências são as verdades grafadas à tinta inapagável e, quando acordadas, voltam a fazer parte da página do nosso dia.
 
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