03/09/2023 às 23h15min - Atualizada em 03/09/2023 às 21h11min

Saudade

Claudia Vanessa Bergamini

Claudia Vanessa Bergamini

Do Norte para o Sul

A autora
Claudia Vanessa Bergamini
Foto da autora

“Sinto saudades, tristezas/

Bem dentro de mim/

Coisas passadas, já mortas/

Que tiveram fim”, com os versos da canção Saudade, de Dorival Caymmi, inicio esta crônica que, de antemão, aviso, nasceu da saudade. E sigo falando desse intrigante sentimento que consome, de alguma maneira, todas as pessoas. A saudade da pessoa que já se foi; a saudade da pessoa com quem não mais convivemos, ainda que gostaríamos; a saudade de um momento, de um sorriso, de um abraço, de ouvir uma voz; a saudade da nossa terra, pois, como bem escreveu João Donato, em Amazonas, “na saudade, choro tanto que meu rio se fez mar”. E nesse mar de lágrimas de saudade, quero falar de uma que, especificamente, vem me dominando: a saudade do tempo. O tempo é, paradoxalmente, intocável e tocável, impalpável e palpável, passado e presente. Dentro desse jogo entre o que ele é e o que não é, desperta-nos a saudade, por isso, prefiro pensar que ele é relacional. E explico. No meu tempo de hoje, há espaços para tarefas que há 20 anos, não caberiam no meu cotidiano. No entanto, ao completar meu dia com tais atividades e preencher o tempo todo com elas, deparo-me com a saudade de que tudo aquilo que não existe mais; o tempo, porém, não foi capaz de apagar, justo por sua paradoxal relatividade. Abri uma porta do meu armário em que guardo uma caixinha com cartas. Aquelas cartas que nos faziam esperar pelo carteiro no portão, aguardando a resposta. Abri a caixinha, li e reli a carta. Meu presente se fez passado. Meu coração se encheu de uma saudade infinita do tempo que só existe dentro de mim. Não são apenas cartas que despertam, ao menos em mim, essa nostalgia, e-mail’s que não quis apagar, mensagens de aplicativos que ficaram ali, eternizando sensações, despertando lembranças e aguçando a saudade. Não sei se a distância de onde vivo, não sei se a passagem de meu aniversário me indicando que o tempo passa e, nesse passar, mudamos, só sei que essa semana a saudade pousou em mim tal qual uma borboleta cinza, nem feia, nem bonita, mas com asas, pelas quais espero que ela voe logo e, quem sabe, leve tudo o que faz falta de verdade. 

Link
Leia Também »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://paranaemdestaque.com.br/.
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp