09/07/2023 às 12h13min - Atualizada em 09/07/2023 às 12h07min
Entre a poesia e a tragédia: o rio
Fotos da autora
Claudia Vanessa Bergamini
A auora no Rio Croa em Cruzeiro do Sul Ac “Lá vai uma chalana/Bem longe se vai/Navegando no remanso/Do rio Paraguai”, nos versos compostos em 1952 por Mário Zan e Arlindo Pinto, eternizados, para mim, na voz de Almir Sater, a chalana é conduzida até ir “sumindo na curva do rio”. O lirismo da canção incide sobre o rio que leva a mulher amada, dois elementos, rio e mulher, por si, poéticos. Vivendo em um estado em que as distâncias são contadas por horas dentro de um barco para subir ou descer o rio, a fim de chegar em uma cidade, eu penso o rio como um ser paradoxal. Isso porque ele tem toda a carga poética que o movimento de ir e vir pode suscitar, mas também o elemento trágico destrutivo que conheci, vivendo na Amazônia acreana. O rio é poesia, é vida, permite a locomoção, é o lugar que oferece alimento, por onde chega comida, remédio, notícias, por onde chega a vida, vivida distante das terras às margens ribeiras e, ainda, por onde transita o barco que “nessas águas tão serenas vai levando o meu amor”. O rio é tragédia quando suas águas invadem as casas, inundam as cidades, quando pessoas morrem afogadas, quando as águas na seca baixam e a locomoção fica impossibilitada. E nesse jogo entre a poesia e a tragrédia, vidas são cortadas ao meio, assim como o próprio rio corta as cidades, atravessando-as sem aviso, sem permissão, fazendo curvas feito serpentes que ora são águas quietas ora são águas selvagens.