01/07/2023 às 23h43min - Atualizada em 01/07/2023 às 23h37min

Mariri e chacrona: você sabe o que é?

Claudia Vanessa Bergamini

Claudia Vanessa Bergamini

Do Norte para o Sul

Fotos da autora
Claudia Vanessa Bergamini
Chacrona: uma das plantas base do Ayhuasca, no quintal da União dos Vegetais
Os nomes podem parecer desconhecidos para você, mas por certo já ouviu falar do Santo Daime e do Ayhuasca. Pois bem!!! Cipó da floresta amazônica, o mariri é empregado para o preparo de uma bebida enteógena. Igualmente ocorre com a chacrona, planta arbórea de caule escuro. Mariri e chacrona são os ingredientes fundamentais para a preparação da bebida sacramental ayahuasca, ou santo daime, ou daime, ou iagê. Trata-se de bebida típica dos povos indígenas do Acre. No início do século XX, Irineu Serra, conhecido como Mestre Irineu, tomou a bebida em uma comunidade indígena, localizada na fronteira Brasil/Bolívia, na cidade brasileira chamada Brasileia, e viveu uma experiência espiritual. A partir dela, criou o Santo Daime, uma crença religiosa que mescla elementos culturais diversos, como as tradições caboclas, xamânicas e o catolicismo popular. Na segunda metade do século XX, na mesma cidade, José Gabriel da Costa, o mestre Gabriel, criou a União dos Vegetais. Ambas as crenças visam à evolução espiritual do ser humano. Nas duas, o ayahuaska é servido. No entanto, o nome da bebida e a forma de preparo dela são diferentes. A forma de preparo também difere as sensações que a pessoa vai sentir ao tomar. Enquanto na União dos Vegetais o preparo é em proporção 1/1/1; no Santo Daime é de 7/7/1. Isso significa que, no Daime, a quantidade de mariri e chacrona fervidos por longas horas para obter a bebida é muito maior do que na preparação feita pela União dos vegetais. Quanto mais forte a mistura, mais intensa a sensação. E claro que eu provei dessa sensação. Para além de crenças preconceituosas que há muito circulam e de notícias exóticas que ajudaram a construir uma imagem mística negativa dessa bebida, o que eu senti foi uma sensação de leveza, de tranquilidade que durou por pouco menos de 2 horas. Não vi nenhum alienígena ou demônio. Fiquei conversando com o mestre da União dos Vegetais e chegou um momento em que senti muito sono. Fiquei quietinha. Tive enjoo e, quando passou, somente restaram em mim sensações de paz e harmonia. Não provei a dose forte, a qual vi na aldeia dos Puyanawa, esta prefiro deixar para um outro momento. A outra, porém, quero uma vez mais receber. Sem preconceitos, sem medo, sem intenção religiosa, apenas para que o ser-estar pleno em mim seja repetido.
 
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