Noelle Peçanhuk Martins (Foto: Divulgação) Ser alfaiate já é um super desafio. Existem cálculos para transformar medidas do corpo em papel, do papel para o tecido e do tecido para ser moldado no corpo. Uma técnica de no mínimo 20 dias para cada peça, mais de quatro tipos diferentes de material interno, todo alinhavado à mão e passado com um ferro extremamente quente, um trabalho que tradicionalmente a séculos vem sendo feito por homens e que agora, no século XXI, vem diminuindo o número de especialistas que colocam a mão na massa.
Eu sou filha de alfaiate, meu pai com 77 anos de vida e 46 de experiência, ainda vejo ele colocando a linha na agulha extremamente fina e fazendo a arte de transformar tecido em peças de roupas impecáveis. E me surgiu uma dúvida: essa profissão está acabando? Hoje é tudo muito industrializado, será que essa profissão que vem fazendo história anos após anos vai ser extinta?
Fiz uma pesquisa e, para a minha surpresa, essa profissão ainda vive. Assim como eu, há outras mulheres apaixonadas pela profissão. Hoje são outros os desafios: uma mulher alfaiate e não é costureira? Não coisas parecidas e diferentes. Alta costura tradicional precisa de perseverança, paciência e dedicação, como tudo na vida.
Em minhas pesquisas, tive a oportunidade de conversar com Noelle Peçanhuk Martins (minha xará), de Botucatu. Pedi que ela contasse um pouco sobre ela, seus desafios e preconceito que passou. Ela comentou que em 2019 foi atrás de profissionais que pudessem ensinar a alfaiataria, camisa social, calça etc. Ela contou que foi difícil no começo encontrar, não tinha nada online e nem presencial na cidade dela.
Foi quando encontrou um alfaiate que cobrou um valor muito alto por uma hora de aula. O que não seria possível para ela no momento, então depois de algum tempo encontrou uma escola de costura e lá ela se aprimorou, fazendo camisa, blazer e foi aprimorando as habilidades. Ela também comentou que sente dificuldade em precificar as peças, é conhecida como costureira e na alfaiataria exige mais técnicas que deixam o produto com o valor maior, mais tempo dedicado ao acabamento, diferente de costureira.
Ela já faz trabalhos como alfaiate, agora está divulgando seu trabalho e as pessoas normalmente confundem mesmo. Inclusive disse que tem muitas encomendas e não tinha muito tempo.
Noelle já ouviu de um alfaiate: “mulher não é alfaiate”. Hoje, o mesmo profissional que falou isso acompanha o trabalho dela. Ela almeja ser referência em alfaiataria e incentivar outras mulheres a aprender a mesma profissão.
Eu fiz diversos cursos, de moda feminino, personal stylist, desenho de roupas, corte e costura, modelagem, moulage. E acredito que todas essas informações não chegam perto do que aprendi com os meus pais. Minha mãe também costurava, eu ficava sempre perto, olhando e aprendendo, já adulta me especializei em alfaiataria masculina, A prática que te deixa realmente bom no que faz, sabe tentativa e erro?
Acredito que ainda estou na fase de aprender, e de errar, e ver os erros dos outros.
Sim, as mulheres podem ser alfaiates, mas tem que usar as técnicas, as ferramentas, entretela, para um bom acabamento, bom caimento, as quais em um terno de "alfaiataria" feminina não tem.
Então as duas coisas têm valores diferentes, uma tem mais dedicação e tempo, material e a outra de forma mais simples.