De todas as mudanças por que passamos quando mudamos de uma cidade, estado ou país, a mais difícil para mim foi em relação à alimentação, e mais ainda, o café da manhã.
Fui criada sob a égide do café, leite, pão (na infância, caseiro, adulta, o francês), manteiga e outros componentes variados a cada dia.
Acordava bem antes do trabalho para preparar o café, ir à padaria e levar para casa o queijo fatiado na hora, o pão de queijo quentinho e o francês com aquela casquinha crocante.
E padaria, em Londrina, há muitas, e riam, mas até da fila da padaria eu sentia (e sinto) saudade.
Quando aqui cheguei, sabia que era diferente, mas café e pão francês, na minha cabeça, era igual arroz e feijão: brasileiríssimos.
E não é assim. Padarias são inexistentes, melhor dizer, raras e não abrem às 6 da manhã para vender o pãozinho. O pão francês é mais raro ainda, existe um pão chamado manual. Seco, com um formato cilíndrico, e sem a textura do francês, mas se come no café da manhã. O café preto não se encontra fácil para vender, ele é oferecido nos estabelecimentos em garrafas térmicas. Todo lugar tem uma, serve-se em um copinho plástico. E eu sofri, até entender a baixaria.
Conta-se que há uns 70 anos, no famoso Mercado Modelo (um mercado popular bem antigo de Rio Branco), um homem chegou logo cedo e pediu à mulher da lanchonete que preparasse um prato. Ela respondeu que àquela hora não tinha muita coisa. Ao que ele respondeu: eu como o que tem. E aí ela serviu o cuscuz (uma farinha de milho pura com côco molhadinha), carne moída, tomate, cebola, um ovo frito e muito coentro. Ele viu o prato e disse: que baixaria! Estava nascido e batizado o prato com o sabor do Acre. É servido nas casas e estabelecimentos no café da manhã. Muito saboroso, tornou-se para mim um sabor desejado. Ainda tenho saudade da fila da padaria, mas adoro uma baixaria!