Professora doutora Paula Tatiana Silva Antunes, da UFAC, a deputada federal Socorro Neri, e a colunista Claudia Bergamini Não se assuste com o título deste texto, sei que pode parecer estranho pensar que ser mulher no Acre é diferente de o ser em outras partes do país. Pode soar estranho, mas é verdade. Quando aqui cheguei, tomei conhecimento das diferenças entre ser mulher no Paraná e ser no Acre.
Julguei exagero, de início, ser feriado estadual o Dia Internacional da Mulher; rapidinho, porém, entendi as questões que agora explico.
O Acre é o líder no índice de feminicídio no país, segundo dados oficiais do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Essa infeliz posição de liderança se estende desde 2018. O Conselho Nacional de Justiça aponta que o índice nacional de morte de mulheres por feminicídio é de 1,2% a cada 100 mil mulheres; no Acre, de 2,6%.
E se espante em saber que armas brancas são mais empregadas do que as de fogo, o que, ao menos para mim, indica que a violência não depende de arma apenas, mas da maldade humana. Mesmo neste cenário que eu poderia ilustrar com crimes terríveis, eu prefiro falar do modo como as mulheres vencem a cada dia o desafio de conviver em uma região patriarcal e violenta. A capital, Rio Branco, já foi dirigida por uma mulher que, na última eleição, foi a candidata mais votada do estado, a deputada federal Socorro Neri. A universidade federal, onde leciono, conta com uma uma reitora já em sua segunda gestão. Dos 22 municípios do estado, 3 são dirigidos por mulheres. No governo, a posição de vice é ocupada por uma mulher. No setor público e no privado há mulheres em cargos de liderança. Isso deve ser comemorado, ainda que as dores daquelas das classes menos favorecidas sejam maiores, pois obstáculos para elas são imensos: pobreza, machismo, falta de oportunidades, preconceitos étnicos (sobretudo com a população feminina indígena). Na economia familiar, as mulheres são representativas, com atividades de agricultura praticadas e lideradas por mulheres em quintais urbanos, por exemplo.
Neste 8 de março, em que um tempo é dedicado a parabenizar as mulheres, eu exalto todas as mulheres, em especial a acreana, pela força que delas emana para driblar a vida com suas faces inóspitas.