21/01/2023 às 18h17min - Atualizada em 21/01/2023 às 18h17min
E você conhece o Brasil?
Claudia Vanessa Bergamini
A autora na floresta, ao fundo uma samaúma centenária Pode soar infantil a pergunta para um brasileiro: você conhece o Brasil? A questão, porém, é que o Brasil não conhece o Brasil. Aldir Blanc e Maurício Tapajós escreveram a letra que, na voz de Elis, se eternizou. Querelas do Brasil confirma o país ser de fato um caldeirão de possibilidades, de contrastes, de novidades, de combinações incríveis de cores, de gentes, de ideias. Quando saímos do universo em que vivemos e deixamos os olhos percorrerem outras realidades, a certeza de viver num país desconhecido torna-se inquestionável. Do Paraná ao Acre há, aproximadamente, 3.500 kms. Do Paraná ao Acre há brasis. E vivendo nesses dois espaços, pude ampliar meu olhar para tais diferenças. Um olhar exótico me acompanhava quando cheguei à Amazônia acreana. O tempo foi tirando o exotismo e me permitindo outras percepções. O que é o rio, por exemplo, para quem aqui vive? O que representa a floresta? Essas são questões para as quais fui construindo (e ainda construo) respostas. O rio não é lugar de sucuris, de arraias, de candirus, de jacarés, de botos cor de rosa, de tambaquis e pirarucus. Claro que todos nele habitam. Todavia, ele é mais. É lugar de vida, espaço, não raro, único para a locomoção, para a chegada do alimento, do remédio, da vacina, para a diversão. A floresta representa a sapiência de um povo, legado a segundo plano, povo este que a respeita, que dela extrai alimento, medicinas. A floresta é espaço de preservação que caminha para muito além da ambiental, a preservação se refere à interrogação sobre a vida, sobre as ligações entre homem, bicho, floresta, as quais são subjetivas para explicar, carecem, pois, de serem sentidas. Na trama que envolve minha descoberta desse universo único, me vi conhecendo um outro Brasil e me vejo em construção. Em meio aos sons da floresta, uma serenata de silêncio se faz em mim e busco em palavras traduzir as sensações de tocar a seringueira, a castanheira e ver os olhos se perderem nas cobras gigantes que o os rios formam.